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Realismo

Autores e Obras

Autores:

Machado De Assis(1839-1908)
Artur Azevedo(1855-1908)
Xavier Marques(1861-1942)
Raul Pompéia(1863-1895)


Obras:

Dom Casmurro, Quincas Borba: Machado de Assis
O Primo Basílio, Casamento de Maria: Artur Azevedo
Jana e Joel, O Sargento Pedro: Xavier Marques
O Ateneu, Uma tragédia no Amazonas: Raul Pompéia

Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é amplamente reconhecido como um dos maiores escritores da literatura brasileira e mundial. Sua vasta produção literária abrange diversos gêneros, incluindo romances, contos, crônicas, poesias e peças teatrais. Nascido no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, Machado enfrentou uma infância humilde e teve acesso limitado à educação formal. Apesar disso, destacou-se como tipógrafo, revisor e, posteriormente, escritor, consolidando uma carreira notável que culminou Caracteriza-se por obras influenciadas pelo Romantismo, com narrativas centradas em temas como idealização do amor e conflitos sentimentais. Os principais romances dessa fase são: na fundação da Academia Brasileira de Letras, da qual foi o primeiro presidente.

Fases da Obra
A produção literária de Machado de Assis é tradicionalmente dividida em duas fases distintas:
Primeira Fase – Romântica (1861-1879): Caracteriza-se por obras influenciadas pelo Romantismo, com narrativas centradas em temas como idealização do amor e conflitos sentimentais. Os principais romances dessa fase são:
· "Ressurreição" (1872): Retrata a história de amor entre Félix e Lívia, explorando as incertezas e inseguranças do protagonista.
· "A Mão e a Luva" (1874): Narra o dilema de Guiomar, uma jovem que oscila entre dois pretendentes, evidenciando a influência social nas escolhas amorosas.
· "Helena" (1876): Conta a história de uma jovem que, após ser reconhecida como filha ilegítima de um conselheiro, enfrenta desafios para ser aceita pela nova família.
· "Iaiá Garcia" (1878): Aborda temas como ambição e manipulação, centrando-se na relação entre Estela e Jorge.

Segunda Fase – Realista (1881-1908): Iniciada com "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881), essa fase marca a transição para o Realismo, com narrativas que exploram a complexidade psicológica dos personagens e criticam os valores sociais da época. As principais obras dessa fase incluem:
· "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881): Narrado por um defunto-autor, o romance apresenta uma visão irônica e pessimista da sociedade brasileira do século XIX.
· "Quincas Borba" (1891): Acompanha a trajetória de Rubião, herdeiro da fortuna de Quincas Borba, e sua decadência ao se mudar para o Rio de Janeiro.
· "Dom Casmurro" (1899): Explora a possível traição de Capitu a Bentinho, deixando em aberto a dúvida sobre a fidelidade da protagonista.
· "Esaú e Jacó" (1904): Retrata a rivalidade entre os gêmeos Pedro e Paulo, ambientada no período de transição do Império para a República no Brasil.
· "Memorial de Aires" (1908): Aborda temas como ambição e manipulação, centrando-se na relação entre Estela e Jorge.Último romance de Machado, apresenta reflexões de um diplomata aposentado sobre a vida e a sociedade carioca.

Características Literárias
As obras de Machado de Assis são marcadas por:
· Análise Psicológica Profunda: Exploração detalhada dos conflitos internos e motivações dos personagens.
· Ironia e Sutileza: Uso frequente de ironia para criticar a hipocrisia e os costumes sociais.
· Metalinguagem: Exploração detalhada dos conflitos internos e motivações dos personagens. Reflexões sobre o próprio ato de narrar, com narradores que dialogam diretamente com o leitor.
· Crítica Social: Observações perspicazes sobre a sociedade brasileira, especialmente a burguesia urbana do século XIX.
· Pessimismo e Ceticismo: Visão desencantada da natureza humana e das instituições sociais.

Legado e Influência
Machado de Assis influenciou gerações de escritores brasileiros, como Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade e Graciliano Ramos. Sua obra é estudada e admirada internacionalmente, com traduções para diversos idiomas. Críticos como Harold Bloom o consideram um dos maiores escritores negros da literatura mundial. Além disso, sua fundação da Academia Brasileira de Letras consolidou um espaço vital para o desenvolvimento da literatura nacional.
A profundidade psicológica de seus personagens, aliada à crítica social e à inovação estilística, assegura a Machado de Assis um lugar central no cânone literário, refletindo sua capacidade única de dissecar a alma humana e os meandros da sociedade.

Artur Azevedo

Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo (1855-1908) foi um proeminente escritor, dramaturgo, poeta, contista, cronista e jornalista brasileiro, nascido em São Luís, Maranhão. Ele é amplamente reconhecido por seu papel na consolidação da comédia de costumes no teatro brasileiro, retratando com perspicácia e humor os hábitos e valores da sociedade de sua época.

Biografia
Desde jovem, Artur demonstrou inclinação para as artes cênicas, adaptando e criando peças teatrais. Aos 15 anos, escreveu "Amor por Anexins", que obteve sucesso regional e nacional. Em 1873, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como amanuense no Ministério da Agricultura e lecionou português no Colégio Pinheiro. Paralelamente, iniciou sua carreira jornalística, fundando periódicos literários como A Gazetinha, Vida Moderna e O Álbum. Colaborou também com Machado de Assis em A Estação e com outros renomados escritores no jornal Novidades.
Artur Azevedo foi um fervoroso defensor da abolição da escravatura, abordando o tema em artigos e obras dramáticas, como "O Liberato" e "A Família Salazar" (também conhecida como "O Escravocrata", em parceria com Urbano Duarte). Além disso, desempenhou papel crucial na campanha pela construção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, inaugurado meses após sua morte.

Estilo literário
Embora cronologicamente associado ao Parnasianismo, Artur Azevedo diferenciava-se por seu temperamento alegre e expansivo, distanciando-se das características típicas dessa escola literária. Sua obra é marcada por um olhar crítico e bem-humorado sobre os costumes sociais, utilizando diálogos ágeis e situações cômicas para satirizar a vida cotidiana da classe média urbana.

Principais Obras:
Teatro
· Amor por Anexins (1872): Comédia que explora jogos de palavras e trocadilhos.
· A Joia (1879): Peça que aborda questões sociais e morais da época.
· O Escravocrata (1884): Drama em parceria com Urbano Duarte, tratando da temática abolicionista.
· A Capital Federal (1897): Comédia de costumes que retrata a vida no Rio de Janeiro.
· O Mambembe (1904): Peça que narra as dificuldades de uma companhia teatral itinerante.
Contos
· Contos Possíveis (1889): Coletânea de narrativas que exploram diversas facetas da sociedade brasileira.
· Contos Fora de Moda (1894): Reunião de histórias que satirizam costumes ultrapassados.
· Contos Efêmeros (1897): Contos que capturam momentos transitórios da vida urbana.
· Contos em Verso (1898): Narrativas poéticas que combinam prosa e poesia.

Legado
Artur Azevedo é lembrado como um dos principais nomes do teatro brasileiro, especialmente por sua contribuição à comédia de costumes. Sua habilidade em capturar e satirizar os hábitos da sociedade de sua época confere às suas obras um valor histórico e literário significativo. Além disso, sua atuação como jornalista e defensor das artes cênicas deixou uma marca indelével na cultura brasileira.

Xavier Marques

Vida e Obra
Francisco Xavier Ferreira Marques nasceu em 3 de dezembro de 1861, na Ilha de Itaparica, Bahia, e faleceu em 30 de outubro de 1942, em Salvador. Foi um destacado escritor, jornalista, político, romancista, poeta e ensaísta brasileiro, cuja produção literária reflete tanto a riqueza cultural da Bahia quanto os ideais patrióticos e históricos de sua época. Filho de uma família humilde, iniciou seus estudos em Itaparica e, ainda jovem, mudou-se para Salvador, onde se matriculou no colégio do cônego Francisco Bernardino de Sousa. Na capital baiana, encontrou sua vocação no jornalismo, profissão que exerceu com dedicação, interrompendo-a apenas durante seus mandatos como deputado estadual (1915-1921) e federal (1921-1924).

Xavier Marques foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 24 de julho de 1919, ocupando a Cadeira nº 28, sucedendo Inglês de Sousa. Sua recepção, em 17 de setembro de 1920, foi conduzida pelo acadêmico Goulart de Andrade. Sua trajetória literária é marcada por uma fusão entre o jornalismo e a criação ficcional, com obras que exploram tanto a vida cotidiana quanto episódios históricos do Brasil, especialmente da Bahia.

"Jana e Joel" (1899)

Publicado em 1899, "Jana e Joel" é considerado por muitos críticos a obra-prima de Xavier Marques. Trata-se de uma novela que narra a história de amor entre Jana, uma jovem mestiça, e Joel, um rapaz branco, em um contexto rural baiano. A trama se desenrola em meio às tensões sociais e raciais do final do século XIX, oferecendo um retrato sensível e realista da vida no interior do Brasil. A obra destaca-se pelo estilo descritivo apurado de Marques, que capta os costumes, as paisagens e as relações humanas com grande vivacidade.

O enredo explora temas como o preconceito, a luta por aceitação e os conflitos gerados pela miscigenação, assuntos que ecoavam as transformações sociais da época. A crítica frequentemente elogia "Jana e Joel" por sua capacidade de entrelaçar lirismo e crítica social, sendo vista como uma evolução em relação ao romance de estreia de Marques, "Boto & Companhia" (1897). A novela reflete a influência do naturalismo, mas com um toque romântico que suaviza a dureza das desigualdades retratadas.

Raul Pompeia

Vida e Obra
Raul d’Ávila Pompéia nasceu em 12 de abril de 1863, em Jacuecanga, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, e faleceu em 25 de dezembro de 1895, no Rio de Janeiro, vítima de suicídio. Filho de Antônio d’Ávila Pompéia, um advogado de temperamento rígido, e Rosa Teixeira Pompéia, descendente de uma família tradicional, Raul teve uma infância marcada por uma educação austera. Aos 10 anos, mudou-se com a família para a capital e foi internado no Colégio Abílio. Essa experiência em um internato rígido influenciaria profundamente sua obra mais célebre, O Ateneu. Mais tarde, transferiu-se para o Colégio Pedro II, onde se destacou como orador e começou a manifestar seu talento literário.

Em 1881, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, mas sua militância abolicionista e republicana, inspirada por figuras como Luís Gama, gerou atritos com a oligarquia local, levando à sua reprovação. Transferiu-se então para Recife, onde concluiu o curso em 1885, embora nunca tenha exercido a advocacia. De volta ao Rio de Janeiro, dedicou-se ao jornalismo, escrevendo crônicas, contos e artigos em periódicos como Gazeta de Notícias e Jornal do Comércio. Sua postura política, marcada pelo apoio fervoroso ao governo de Floriano Peixoto, o isolou de muitos contemporâneos, como Olavo Bilac e Luís Murat. Esse isolamento, somado a crises depressivas e calúnias públicas, culminou em seu suicídio aos 32 anos, na noite de Natal de 1895, com um tiro no coração. Deixou um bilhete afirmando: “Ao jornal A Notícia, e ao Brasil, declaro que sou um homem de honra.”

Raul Pompéia é reconhecido como um dos grandes nomes do Realismo e Naturalismo brasileiros, embora sua obra também apresente traços impressionistas e simbolistas. Além de escritor, foi desenhista e caricaturista, ilustrando algumas de suas publicações. Sua produção reflete uma sensibilidade aguda para os dramas humanos, as injustiças sociais e as tensões psicológicas, temas que atravessam suas principais obras: Uma Tragédia no Amazonas e O Ateneu.

O Ateneu (1888)

Publicado em 1888, inicialmente em folhetins na Gazeta de Notícias e depois em livro pela mesma tipografia, O Ateneu: Crônica de Saudades é a obra-prima de Raul Pompéia e um marco da literatura brasileira. O romance, narrado em primeira pessoa por Sérgio, um alter ego do autor, é uma reflexão autobiográfica sobre os anos que Pompéia passou no Colégio Abílio. A história começa com a chegada de Sérgio, aos 11 anos, ao internato Ateneu, sob as palavras do pai: “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.” O que se segue é um retrato crítico e psicológico da vida escolar, das relações de poder e da perda da inocência.

O Ateneu, dirigido pelo ambicioso e autoritário Aristarco Argolo de Ramos, é um microcosmo da sociedade brasileira do século XIX, com suas hierarquias, hipocrisias e corrupções. Sérgio observa os colegas — como o aplicado Rebelo, o travesso Franco e o amigo Egbert — e reflete sobre temas como solidão, homossexualismo, rivalidades e a brutalidade disfarçada de disciplina. A narrativa culmina em um incêndio que destrói o colégio, interpretado como um símbolo da falência daquele sistema.

A obra combina elementos do Realismo, com sua linguagem objetiva e descrições minuciosas, e do Naturalismo, com o determinismo (o meio escolar moldando os personagens) e a exposição de aspectos “animalescos” da natureza humana. No entanto, a prosa poética, as imagens impressionistas e o tom memorialístico desafiam uma classificação rígida, aproximando-a também do Simbolismo. Críticos como Adherbal de Carvalho, em O Tempo (1888), chamaram-na de “magistral” e “o melhor escrito na língua portuguesa”, comparando Pompéia a Balzac, Zola e Flaubert. Araripe Júnior, em Novidades, viu nela o germe de uma nova escola literária.

O Ateneu é tanto uma denúncia do sistema educacional da época quanto uma exploração da psique adolescente. A sátira ao diretor Aristarco e o rancor contra a opressão institucional refletem as experiências pessoais de Pompéia, transformadas em arte universal. A obra permanece atual por sua análise profunda das relações humanas e das instituições de poder.

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